O cancelamento é o conceito da vez ou o movimento do momento. Para se entender um pouco do que se trata é a exclusão de uma pessoa de certo grupo ou sociedade virtual/real.

O cancelamento e a internet

A cultura do cancelamento é um movimento da internet, por isso pode ter proporções nem imaginadas. Essa “punição” é resultado de um julgamento dos atos ou palavras do outro no ambiente virtual ou real. Atitudes não toleradas mais na sociedade atual. Estas estão relacionadas a práticas e “culturas” que foram desconstruídas ao longo dos novos tempos como, por exemplo, qualquer tipo de preconceito ou discriminação.

O julgamento e a punição do cancelamento pode ser temporário ou perpétuo. Vai depender da gravidade dos atos ou a forma como esses atos foram interpretados pela grande massa virtual.

cancelamento, a nova cultura de punição e auto punição por Alessandra faria

Julgar o outro é uma forma de encobertar os próprios erros

Todavia, o cancelamento nada mais é que o antigo hábito de apontar os defeitos, erros e falhas do outro, porém com proporções gigantescas. Além de apontar/julgar, pelo mundo virtual, é possível ainda sentenciar e executar a sentença. Nada mais é que um jogo de poder. Onde as pessoas se sentem no direito de executar o cancelamento alheio e ficam realizadas com isso. Afinal, teoricamente, estão “construindo um mundo melhor”. Todavia, nos esquecemos de um pequeno detalhe: vemos nosso reflexo no outro.

Bem, essa introdução é apenas para refletirmos um pouco sobre a cultura do cancelamento e sobre como essa prática pode ser tão danosa quanto os atos do cancelado. O que realmente quero trazer para vocês hoje é uma pauta muito interessante que recebi da Jornalista Juliana Valentim sobre o auto cancelamento. Pois, podemos ser tão ou mais rígidos conosco do que com os outros.

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Auto cancelamento e a incapacidade de perdoar a si mesmo

“Cancelamento, palavrinha famosa que tem passado de boca em boca sempre ganhando roupas novas. Na essência, nada mais é do que um julgamento ao que consideramos um erro grave do outro. Diante da nossa incapacidade de perdoar e esquecer, cancelamos as pessoas.

Nada que nunca tenha sido feito ao longo da história. Mas, nos tempos atuais, o cancelamento ganha proporções compatíveis com o alcance da Internet. Ou seja, o cancelado é cancelado publicamente e por muito mais gente.

Talvez a pessoa tenha feito mesmo algo muito grave, mas o que vemos é um movimento para que repensemos este tipo de punição. E isso serve pra gente com a gente mesma. Quem nunca sofreu uma autopunição?

Todos nós conhecemos alguém que se cancelou. Que nunca se perdoou por um erro do passado, por uma escolha, por uma estrada, por uma palavra que não deveria ter sido proferida. Há quem se cancele por toda uma vida! E sofre, é claro!

cancelamento, a nova cultura de punição e auto punição por Alessandra faria

Já se olhou nos olhos hoje?

São pessoas que andam por essa terra sem se olhar nos olhos, com os espelhos sempre tampados para não enxergar o próprio reflexo. Todo mundo já se sentiu assim alguma vez na existência, como se não fosse digno de perdão.

Faz parte da natureza humana a vergonha de si mesmo. No entanto, em algum momento, ela precisa passar. E dar lugar a uma coisa bonita que nos faz seguir, sem carregar tantas culpas. Porque as coisas essenciais, invisíveis que são, cabem dentro do bolso ou na palma da mão. O resto é peso na alma, tralha que não compensa levar, é corrente que prende ao chão e atrapalha o caminhar.

Permita-se

Há indivíduos que possuem uma enorme facilidade em perdoar os outros. Porém, quando o assunto é o próprio erro, tratam-se com desdém. E não é justo negar a si mesmo um abraço! Se você não faz, quem o fará?

No fim das contas, no fim do mundo, qualquer que tenha sido o erro, a gente sempre pode voltar pra casa. Para o aconchego do próprio peito, onde tem a cama pronta e rango no fogão, onde a música toca bem alto. Lulu Santos, talvez. A gente sempre pode voltar pra casa, para nossa casa de dentro… Outra vez!”

Texto lindo, concordam? Fica aí a reflexão para o dia de hoje. Perdoar não é fácil, quanto mais a si mesmo. Mas, é possível e tira um grande peso da alma.

Sobre Juliana Valentim: jornalista e escritora, com vasta experiência também na área de comunicação corporativa. Autora que transita por diferentes gêneros literários, passando pelas crônicas, poesias e romances. É palestrante, consultora de escrita criativa.

Fotos: reprodução.