Olá Queridas!

Hoje trago para vocês a entrevista que fiz com o talentoso estilista Luiz Cláudio da marca Apartamento 03, durante o Minas Trend verão 2016.

DSCN0532

Eu entrevistei o Luiz Claudio logo após o desfile de Lucas Magalhães, no segundo dia de desfiles do Minas Trend. A ideia era filmar a entrevista, mas tanto ele, quanto eu, ficamos um pouco tímidos, por isso gravei e transcrevo aqui para vocês.

Eu: Luiz Claudio conta para os leitores e seguidores um pouco da sua trajetória e da criação da marca Apartamento 03:

LC: Por volta de 2004, eu já trabalhava para algumas marcas que tinham veio mais comercial e comecei a fazer algumas peças em casa que tinham mais a ver com meu desejo. Até que fiz um trabalho para a Santanense que incluíam-se várias roupas. A diretora de cena gostou das peças e me pediu para fazer uma saia para ela. Ela amou a peça e um dia, quando estava com a mesma no supermercado, uma pessoa perguntou-lhe de onde era a saia e pediu o contato de quem havia feito.

Esta pessoa me ligou, eu fiz uma roupa para ela ir a uma festa e lá outras pessoas lhe pediram o contato e assim foi crescendo.

Até que chegou o momento, em 2006, que eu senti a necessidade de criar e registrar a marca. Como tudo era feito no meu apartamento 03, este nome pegou. Eu sempre gostei do número e nunca imaginei ter a marca com meu nome.

Eu: Essa saia seria então, sua primeira peça comercial que saiu às ruas e deu origem ao que a Apartamento 03 é hoje?

LC: Sim. Inclusive, esta saia esteve no meu primeiro desfile da SPFW que aconteceu no final de 2014. Era uma saia preta toda em camadas.

entrevista-com-luiz-claudio-estilista-apartamento-03

Eu: Qual foi o maior perrengue ou a maior dificuldade que você teve nestes 9 anos de criação oficial da Apartamento 03?

LC: Foram várias. Tive vontade de desistir de tudo em vários momentos. Mas, eu sou uma pessoa que não consigo focar na parte ruim das histórias. Sempre tento ver o que posso tirar algo de bom das situações. Tenho uma positividade muito grande. Por isso, não lembro especificamente das dificuldades, já ficaram para trás.

Mas, me lembrei de uma vez que fiz alguns pedidos de tecidos e não os recebi em tempo. Como precisava entregar a coleção, a fiz com o que tinha em mãos: sianinhas. Costurei uma a uma para fazer o tecido. Foi um momento ruim do qual eu criei algo inusitado.

Eu: Você estreou no Minas Trend em 2009?

(Depois de debatermos sobre a data, cada um com a cabeça mais passada que o outro, chegamos à conclusão).

LC: Ah, sim. Foi uma coleção toda em organza. É difícil lembrar de tudo porque são duas coleções por ano e a gente acaba se confundindo com datas.

Eu: Te acompanho pelo Facebook e li uma entrevista que você deu a uma revista onde dizia que você sempre quis fazer roupas que tivessem poesias.  Realmente, você escreve versos maravilhosos com tecidos e linhas. Qual a sua sensação quando você vê uma mulher vestida lindamente com uma peça sua?

LC: Eu não sei se eu disse exatamente isso, talvez a jornalista tenha interpretado desse jeito. Tenho um pouco de receio de falar assim, porque é bastante forte.

Mas, a minha alegria em fazer uma roupa é tanta que não penso se vai vender, se vai render dinheiro. Só penso em atingir uma pessoa inteligente o suficiente para olhar para roupa e perceber que aquilo não é fast fashion, que não foi feito por crianças, por trabalho escravo, que a pessoa perceba que está comprando uma roupa que não foi feita em poliester, que foi confeccionada com carinho. Eu fico feliz é com isso!!!  Eu não sei se faço poesia com os tecidos… Sei que faço o que gosto e fico muito feliz com o resultado. Estou muito feliz com o caminho que a marca está tomando, que estou trilhando. Sempre fiel ao que acredito.

Quando vejo fotos antigas da minha marca, vejo os mesmos amigos de hoje, os mesmos parceiros, minha equipe. Todos torcendo e trabalhando junto, como uma família.

Eu: Resumindo o que você disse, apesar de todo caminho trilhado, todas as dificuldades encontradas e agora você está no auge do sucesso, você não está deslumbrado com o resultado, apesar de muito feliz por ter atingido um trabalho de excelência, certo?

LC: É. Estou ainda me acostumando com tudo isso. Feliz com o resultado, mas acostumando em dar entrevistas, ter uma agenda cheia de compromissos, tirar foto, ser filmado… Tudo isso é novidade para mim.

Eu: Conheço seu trabalho desde 2011 e sempre percebi o diferencial de suas peças. O corte é perfeito, o acabamento visto pelo avesso é impecável. Suas peças são forradas, feitas em tecidos de qualidade que não vemos mais. De onde veio essa sua essência de moda e costura bem feita?

LC: Eu aprendi a costurar com minha mãe. Minha mãe era costureira e fazia os moldes em jornal, cortava a roupa, montava, provava na cliente várias vezes, até achar que estava perfeita. Foi assim que aprendi moda, mais do que na faculdade. Eu não sou uma pessoa didática, que se pega em moda dos anos 20, 30…

Eu: Na verdade tudo isso que está na moda hoje a gente já viu não é, Luiz Claúdio? Minha mãe também era costureira e tudo que tem hoje é releitura, certo?

LC: Exatamente. Não tem nada de novo. A forma como você apresenta, a sua história é que pode soar novo para as pessoas. Mas, novo, novo não tem. Comprar também é uma coisa que as pessoas não precisam mais. Todo mundo tem uma quantidade de roupa hoje no armário que dá para se vestir durante uns dois anos se quiser (isso lhes soa conhecido? hehe). As pessoas compram pelo desejo e é isso que a gente tem que alimentar. E é a forma como a gente mostra nosso trabalho que o faz desejável.

Eu: Muito obrigada, Luiz Claudio. Ficaremos aqui acompanhando seu sucesso.

Fotos: Laína e Portal FFW.