A crise do luxo não se resume apenas no financeiro, mas também na credibilidade. Está ruindo uma imagem que foi construída por décadas.

Nos últimos anos, o mercado da moda de luxo vem passando por um choque de realidade. Marcas gigantes como Gucci, Louis Vuitton e Armani estão enfrentando quedas nas vendas, críticas pesadas e, pior, escândalos envolvendo mão de obra barata e até más condições de trabalho.

A credibilidade na crise do luxo

A Armani levou uma multa de €3,5 milhões na Itália depois que autoridades descobriram que parte da produção era terceirizada para oficinas com condições precárias: trabalhadores sem contrato, ambientes insalubres e falta de segurança.

A Gucci também viu seus números despencarem: de €10,5 bilhões em receita em 2022 para €7,7 bilhões em 2024 — queda de 23% só no último ano e lucro operacional 51% menor.

E não é só ela. A LVMH — dona de Louis Vuitton, Dior e Fendi — registrou uma queda de 9% nas vendas de moda e couro no segundo trimestre de 2025.

O que mudou no consumo do luxo?

Se antes o luxo era ostentação e logo gigante, agora a história é outra. O fenômeno do quiet luxury (peças discretas, sem logo) até bombou, mas já foi rapidamente absorvido e copiado pelo fast fashion.

O consumidor está mais consciente. Segundo a Luxiders, 31% dos compradores de luxo priorizam sustentabilidade. Na Farfetch, produtos “conscientes” vendem 3,4 vezes mais rápido que os demais, e programas de revenda cresceram 527% entre 2020 e 2021.

A Accio aponta que 75% do gasto de luxo hoje vai para experiências — viagens, gastronomia, wellness — e apenas 25% para produtos físicos.

Experiência se tornou o novo luxo

A Geração Z, então, está mudando o jogo: cada vez mais adepta do consumo de segunda mão, trocando bolsas e sapatos caríssimos por experiências como viagens, gastronomia e bem-estar. Hoje, 75% do gasto de luxo vai para experiências e só 25% para produtos.

O que é luxo na moda agora?

O luxo deixou de ser só “caro” e passou a ser legítimo. É sobre história, autenticidade e impacto positivo.

  • Queremos saber de onde vem o produto.
  • Queremos sentir que ele foi feito por mãos valorizadas.
  • Queremos que ele dure e tenha significado.

Peças artesanais, joias personalizadas e colaborações culturais estão conquistando espaço. E, olha, o mercado de revenda deve chegar a 20% da receita total do luxo até 2030 — ou seja, não é só sobre comprar novo, é sobre comprar com propósito.

Como esse mercado pode se reerguer?

Se as marcas quiserem voltar a brilhar, vão precisar mudar de verdade:

  • Sair do “mais do mesmo”: criar coleções ousadas, com personalidade que se conecte com a exigência do seu público.
  • Ética – Abrir a caixa-preta: mostrar origem, condições de produção e impacto ambiental.
  • Entrar no jogo da economia circular: revenda oficial, aluguel de peças, recompra.
  • Falar com a nova geração: narrativas reais, apoio a artesãos, experiências digitais imersivas.
  • Ter preços inteligentes: produtos de entrada (perfumaria, maquiagem) para atrair o público aspiracional, sem perder o luxo raiz.

No fim das contas, o luxo do futuro vai ter que ser bonito por dentro e por fora. Não adianta só brilhar na vitrine: o consumidor quer saber a história por trás e se sentir parte de algo que realmente vale o investimento.

Imagem criada por IA.