Os desfiles do SPFW N45 foram incríveis.

A crise financeira tirou os artistas da zona de conforto. Eles se reinventaram e criaram uma moda renovada.

Cada um com seu estilo e mantendo o DNA de suas marcas, porém com novos ares. Isso também foi percebido durante o Minas Trend.

Durante o SPFW N45, 5 estilistas apresentaram desfiles ainda mais criativos, fora da curva. Trazendo muita dramaticidade e ousadia à passarela.

Veja os desfiles mais ousados do SPFW N45:

  • Amapô trouxe o mais absurdo de todos os desfiles. Inspirada na pop art de décadas passadas, a marca trouxe sobreposições, cores, oversized e geometria. Ficou clara a presença de David Bowie na passarela. O casting formado por amigos, celebridades da internet entre as modelos imprimiram diversidade ao desfile. Além disso, foram responsáveis por escolher sua própria maquiagem.

  • Lino Villaventura nadou contra corrente e trouxe um verão sombrio, bem coberto e muito dramático. O shape extravagante leva tecidos nobres que valorizam a mulher. A imagem é uma mistura de nostalgia com algo futurista, me lembra um pouco o cenário do filme Matrix. Lino brinca com bordados que simulam pespontos. A maquiagem segue a mesma linha e leva à reflexão do padrão de beleza atual, originário de intervenções cirúrgicas. A coleção é um soco no estômago que possibilita emoções diferentes a cada observador.

  • Lenny Niemeyer trouxe muito luxo para moda praia. Com certeza não é uma moda para as areias, mas para o piso de iates de luxo, resorts internacionais e paisagens gregas e amalfitanas. A estilista apresentou “muita roupa”. Muito brilho, franjas, tecidos de bom caimento, sobreposições e oversized. Lenny mostrou que a moda praia está cada vez mais sofisticada.

  • Fernanda Yamamoto trouxe uma homenagem à sustentabilidade. Com um desfile cheio de entrelaçados de seda inspirados na comunidade Yuda, formada por japoneses. A comunidade fica a 600 km de São Paulo e tem como valores o respeito à natureza, o zero desperdício, o convívio humano. As peças são monocromáticas. Os tecidos sofreram tingimento artesanal/natural. O corte costura foram pensados de forma a reduzir resíduos têxteis. Lembra muito a técnica moulage e o plissado de Issey Miyake. O casting também preservou a diversidade, com pessoas comuns além das modelos.

  • Ronaldo Fraga trouxe a atenção de volta à tragédia de Mariana. O maior acidente ambiental do Brasil ocorreu em novembro de 2015. Claro que tinha que puxar a sardinha, ou melhor o pão de queijo para o nosso lado. Fechar esse artigo com um dos, ou o mais criativo, sensível e descolado estilista brasileiro. As apresentações de Ronaldo Fraga vão muito além das salas de desfile. Sempre atendo a questões sociais e à sustentabilidade, Ronaldo traz espetáculos que cutucam feridas e despertam reflexões e emoções.

Para o verão 2019 Ronaldo foi atrás das bordadeiras da região de Barra Longa e pediu que elas contassem sua história de renovação após a tragédia. Com o tema Mudas, sua apresentação emocionou a todos a ponto de levar ao choro. A cartela de cores é terrosa, faz menção ao barro. Fragmentos de objetos, cartas, documentos, lembranças do que sobrou são estampas. A natureza é retratada em folhas. A melancolia é transformada em esperança.

Fotos: Agência Fotosite para FFW.